10 de fevereiro de 2009

A crise cria oportunidades... mas gera ainda mais oportunismos!

Vi hoje um artigo de opinião no Jornal de Negócios que achei particularmente bem feito e que aconselho vivamente à leitura aqui ... entretanto aproveito para salientar uma opinião dada ao mesmo artigo, que podem ver abaixo:

"Descobri que existia um político com afirmações mais populistas que o Louçã, que se está a aproveitar da crise... ou não... Sexta-feira passada o chefe de estado da 5ª maior economia do mundo deu uma grande entrevista.
O Sr. Sarkosy impressionou-me embora não me tivesse convencido.
O mundo de há 30 anos para cá mudou muito, hoje em dia os comunistas mais ferrenhos estão a dizer que tinham razão, é ver o Álvaro Cunhal lançar os braços no ar e dizer, de onde quer que ele esteja, que tinha razão e ver finalmente os bancos do mundo a serem privatizados e os chefes de estado a fazerem pressão á porta dos privados para que ajudem efectivamente os trabalhadores.
Ontem le Petit (Sarkosy) como lhe chamava outro chefe de estado francês, disse textualmente que o trabalhador francês que muitas vezes tem dois empregos para garantir um nível de vida estável, não era culpado da situação que estava a acontecer no mundo e que esperava mais solidariedade das empresas francesas. Disse de entre muitos assuntos abordados que as empresas eram na opinião dele mal geridas, pois era permitido que os lucros anuais fossem integralmente distribuídos pelos sócios em forma de dividendo ou qualquer outras formas de remuneração em detrimento do investimento na empresa e das remunerações dos seus trabalhadores. Disse também que iria negociar com essas mesmas empresas pois tinha esperança de encontrar soluções de gestão mais razoáveis para as empresas e seus trabalhadores agora em detrimento dos sócios.

Sarkosy acha razoável a formula de calculo 1/3 dos lucros para dividendos para os sócios, 1/3 para o investimento na empresa e 1/3 dos lucros para os trabalhadores.

Não é o único que na Europa a pensar assim, mas nunca o tinha ouvido dizer a tão alto nível e é quase heresia um chefe de estado de direita (UMP correspondente a um PSD português) ter soluções de esquerda que o nosso PM não se atreveria a dizer com certeza em voz alta.

Mas o que é hoje de esquerda e de direita?
É indiscernível pois os políticos adoptaram posturas híbridas muito mais flexíveis nestes momentos excepcionais de crise mundial. Mas neste país de cariz fortemente socialista, país onde se trabalha 35h semanais desde há vários anos, o limite da pobreza está estimado em 752 euros e o SMIC ou salário mínimo é de 1005,37 euros e bruto de 1 280,07 €. Ainda assim neste país é como cá difícil de sobreviver do salário mínimo, especialmente se se tem crianças a seu cargo.
Tal como cá é difícil economizar quando se tem o salário mínimo apesar de se trabalhar duro mês após mês e ano após ano.
É difícil de um português ou francês perceber ao certo o motivo da escolha do desemprego pelo seu patrão quando lhe foi pedido sacrifícios durante muitos anos de trabalho duro e salários baixos que foram esquecidos na distribuição de lucros final das empresas, é difícil de perceber porquê são sempre os mesmos a pagar as crises provocadas pelas descapitalizações das empresas.

No seu discurso teve também alguns rasgos de proteccionismo das empresas Francesas. Vou abrir um parênteses para dizer que ele pode pois Sarkosy tem grandes empresas francesas nós cá a coisa não é assim tão clara para o nosso Primeiro Ministro, basta ter em mente que o nosso maior exportador é uma segunda empresa da gigante Infeneon antiga Siemens agora praticamente em processo de falência e patentes em fase de produção não é coisa que abunde em Portugal. Sarkosy falou num caso concreto que afectaria seguramente Portugal no caso de empresas do ramo automóvel como a Renault e a Peugeot-Citroen, disse que faria tudo para evitar que essas empresas fabricassem carros fora de França para depois ter de os importar, como acontece com modelos fabricados em Portugal actualmente.

Finalizo dizendo que le Petit se portou globalmente bem apesar de nem sempre estar de acordo com o antigo chefe da presidência do concelho europeu que ainda assim deu excelentes dicas para a presidência checa ao nível de possíveis opções estratégicas a serem tomadas na união européia. Sarkosy representou a face de um político flexível ou híbrido como lhe queiramos chamar que em momentos excepcionais é capaz de recorrer a pensamentos fora das linhas orientativas do seu partido por forma a arranjar consensos.
Poderemos chamar-lhe populista ou muitos outros nomes mas uma coisa é certa, como ele quis frizar, não lhe podem chamar de mentiroso, isso não. E este Sr. está disposto a ir mais longe na questão dos paraísos fiscais num país onde não existe sigilo bancário para ninguém.

Fica aqui a entrevista completa:
http://videos.tf1.fr/video/news/economie/0,,4247988,00-tf1-en-video-nicolas-sarkozy-face-a-la-crise-1-4-.html
http://videos.tf1.fr/video/news/economie/0,,4247989,00-tf1-en-video-nicolas-sarkozy-face-a-la-crise-2-4-.html
http://videos.tf1.fr/video/news/economie/0,,4247998,00-tf1-en-video-nicolas-sarkozy-face-a-la-crise-3-4-.html
http://videos.tf1.fr/video/news/economie/0,,4248009,00-tf1-en-video-nicolas-sarkozy-face-a-la-crise-4-4-.html

Uma coisa é certa a sensibilidade para lidar com esta crise não se assemelha nada com o caso português. Todos e sem excepção os políticos portugueses parecem individuos sem coração e sem razão."
Carlos Gaspar

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